Frutas são o novo salto da genética
Comer maçãs interfere em gene encontrado em pessoas com tendência a problemas cardíacos
Depois, veio o hype das terapias genéticas, quando se anunciou que os médicos poderiam tratar os pacientes, dando-lhes cópias novas de genes defeituosos, como se fossem mecânicos trocando as velas de ignição de um Fusca. Não foi surpresa que esse tipo de terapia se provasse, na prática, mais complicada que na teoria e que não tenha, até agora, curado ninguém de nenhum problema genético.Pois bem: agora, a genética sci-fi está nos dando evidências de algo ainda mais marcante: a ideia de que podemos alterar por conta própria, sem que isso requeira prática e nem tampouco habilidade, a ação de genes ligados a doenças. E, dessa vez, a coisa é séria.Essa ideia de “terapia genética faça você mesmo” para reduzir nosso risco de adquirir doenças letais é baseada num fato quase sempre incompreendido sobre os genes. Nós nos acostumamos a pensar neles como ditadores moleculares, que determinam com precisão o que acontece nas nossas células. Mas o maior insight que emergiu do Projeto Genoma foi a descoberta de realidades genéticas mais sutis: o mesmo gene pode se comportar de formas radicalmente diferentes, dependendo de como ele interage com outros genes. E há uma série de outras influências importantes para determinar a ação genética, inclusive a dos elementos químicos que entram em nossas células por meio dos alimentos que ingerimos. Pesquisas recentes indicam que certos alimentos têm a capacidade de nos proteger de doenças fatais, alterando o funcionamento dos genes ligados a elas.A evidência vem de um estudo de uma equipe internacional liderada por pesquisadores das universidades McGill e McMaster, ambas no Canadá. Eles compararam dietas de mais de 27 mil pessoas de diferentes etnias cujos DNAs foram analisados para detectar a presença de um gene conhecido como variante genética 9p21. Em 2007, um time de caçadores de genes começou a desconfiar que as pessoas que possuiam essa variante em seu DNA enfrentavam um risco maior de sofrer ataques do coração. No entanto, por incrível que pareça, o 9p21 não tem nenhum envolvimento mais óbvio com o funcionamento do coração. O link desse gene com as doenças do coração não é direto – como é normalmente o caso em genes ligados a doenças comuns. Porém, uma pista importante emergiu agora do estudo das dietas. A pesquisa revelou que a variante genética 9p21 é mais propensa a levar a um ataque do coração se os portadores dela lançam mão de uma dieta que não inclui frutas frescas ou vegetais. Em outras palavras: se aumentarem a quantidade de saladas na entrada e frutas na sobremesa durante as refeições, os portadores do gene malfazejo podem se esquivar de seus piores efeitos. Na verdade, eles passam a ter o mesmo nível de risco de sofrer problemas do coração da população em geral. Exatamente por que isso acontece é algo que ainda não está suficientemente claro para os pesquisadores, mas a conclusão mais importante é a de que você não precisa fazer um escaneamento total do corpo ou uma complexa terapia para diminuir o risco de infarto por meio da genética, basta mudar um pouco a sua dieta. Robert Mathews é pesquisador da Aston University |
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